O Novíssimo Cinema Português
“O cinema jovem português, filho afastado do Novo Cinema, tem muitos afluentes. Afluentes e confluências. Dizer que fazem todos o mesmo cinema é um equívoco recorrente. Neste olhar que proponho vamos poder ver uma variedade de formas e estilos. Cineastas jovens que nada têm a ver uns com os outros. De um lado, Carlos Conceição e a sua plasticidade única, do outro André Marques, um cineasta que se desafia constantemente.
E porque o cinema nacional não vive só dos rasgos de talento dos realizadores, a escolha de Os Olhos de André, de António Borges Correia, produzido pela Blackmaria, é também uma pista para seguirmos um percurso de apostas de uma produtora. São filmes e gestos de cinema verdadeiramente estimulantes e com um sinal dos tempos. Quer a nível de linguagem, quer a nível de formas. Como programador destas sessões, interessou-me apontar para um trilho de futuro entre as curtas e as longas, com um pé neste presente e uma passada no futuro. Não é por acaso que o cinema português é a “next big thing” internacional. Os filmes da Blackmaria, de Carlos Conceição e de André Marques circulam por festivais de todo o mundo e são mais respeitados lá fora do que aqui. É tempo de começarmos a amar um pouco mais o nosso cinema...” «Rui Pedro Tendinha, comissário da mostra» |
O cinema de André Marques
YULYA (2015), de André Marques, com Joana de Verona. Pouco sabemos dela. Yulya é uma jovem mulher em fuga, um corpo em inconstância e em perigo. Sentimos uma sensação de exploração. Yulya é um filme em busca de uma perceção de sensualidade. Não tem diálogos, mas tem emoções fortes. Em Portugal estreou no Festival Curtas Vila do Conde e revela o imenso talento de Joana de Verona. LUMINITA (2013), de André Marques, com Dragos Bucur. O novo realismo romeno tem rimas com o cinema português? A resposta tem rasteiras...André Marques, cineasta bem português, viveu e estudou na Roménia e foi lá que filmou este drama familiar onde dois irmãos que não se falavam se encontram no funeral da mãe. Filme sobre sentimentos recalcados e sobre uma ideia da célula familiar. É a obra-prima de um cineasta que filma como ninguém. |
O Cinema de Carlos Conceição
COELHO MAU (2017), de Carlos Conceição, com Júlia Palha. A última curta-metragem desta jovem certeza do cinema português é uma viagem por uma adolescência romântica e tóxica. Uma história de dois irmãos, uma rapariga e um rapaz. Personagens que vacilam entre a eminência da morte (ela está doente) e o assombro do desejo sexual. O filme esteve no Festival de Cannes e estabeleceu Conceição como um olhar a ter em conta no cinema europeu... INFERNO (2011), de Carlos Conceição, com Gonçalo Waddington. No decorrer de uma tarde, o paraíso de Rafael transforma-se numa espiral de culpa e paranóia. Tudo se passa numa casa com piscina... O filme mais Almodovariano de Conceição passou na secção Emergentes do Indielisboa, em 2011. |
Os Olhos de André, de António Borges Correia, produzido por João Figueiras
Antestreia do novo filme de António Borges Correia, cineasta sempre fascinado com noções do real. Esta é a história verdadeira de uma família de Arcos de Valdevez que fica à beira de uma tragédia quando o filho mais novo parece destinado a ser entregue a uma família de acolhimento devido às dificuldades do pai serralheiro em conseguir garantir a subsistência de todos. Uma história interpretada pelas pessoas que viveram esta dura tormenta. Os Olhos de André venceu o IndieLisboa e apresenta-se como um híbrido do cinema do real. A película vai ser seguida de um debate sobre o Novo Cinema Português e a sua visibilidade no mundo, que vai contar com Rui Pedro Tendinha, jornalista de cinema, João Figueiras, produtor/realizador de cinema, José Miguel Gaspar, editor cultural do JN e Dalila do Carmo, atriz. |